Diário da minha vida - 4

O meu pai acabou de ficar desempregado e os dias voltaram ao que eram, não tenho atenção, agora até tenho menos, mas deixem já me habituei.
Na escola continua tudo igual, não tenho amigos e a professora continua a imbirrar comigo, por tudo e por nada, nem na escola sou bem-vinda.
Já é noite cerrada mas eu sento-me à janela a contar as estrelas no céu, são tantas que nunca estão sozinhas, gostava de ser uma, sempre com o aconchego de todas as estrelas e com o brilhar da lua como companhia, mesmo as que estão mais afastadas têm a sua luz e parece que não têm medo de nada, "um dia também vou brilhar como elas", ó sonhos, só sonhos, mas sonhar não faz mal.
Voltei à tela que a minha avó me deu pelos anos (a única prenda que recebi pelos anos), os traços que desenhei até que não ficaram mal, para uma miúda de 6 anos e meio até que não pinto mal, mas apesar de ter jeito para a pintura é com a tela à frente e de pincel na mão que me sinto bem e consigo ter algum carinho, mesmo que seja com coisas materias, ontem até sonhei que era uma pintora famosa.
Os traços vão formando um mundo imaginário, não sei bem o quê, uma espécie de desenho abstracto que cabe a cada um imaginar o que quiserem, até onde a mete deles os leve. Para mim é o que sempre imaginei para mim, um futuro não sei onde, com nem sei quem, mas que me faça sentir plena e em paz com o mundo.
Estão a ralhar comigo, tenho que deixar a minha tela e ir jantar com os meus pais.
Woow, que sala de jantar tão silenciosa e medonha, os meus pais sempre falaram à hora da refeição, embora que não fosse comigo, de repente a minha dispara:
- Não tens mais nada que fazer, a não ser passar horas no quarto?
- Talvez tivesse, se vocês me dessem atenção! - respondo eu com a voz trémula e com uma lágrima a escorrer pelas minhas bochechas rosadas.
- Vamos lá ver como falas, não andamos contigo na escola - grita o meu pai.
Rompi-me em lágrimas, eles continuam a comer como se nada fosse, como habitualmente fazem, eu apenas brinco com a comida à espera que eles me mandem para o quarto.